Beatriz Batarda, uma referência...
Tuesday, 11 October 2011
Depois de um desfile já há muito tempo, há alguns anos, estava eu na casa de banho, um pouco chateada, por motivos que agora não interessam para nada...talvez estava mesmo triste - acho que fico sempre mais triste que chateada - e a tirar uns ganchinhos do cabelo, ou melhor, espetados mesmo na cabeça, quando sinto um olhar diferente que me observa, um respirar diferente, um silêncio diferente que é interrompido sem avisar, mas sem assustar "deve doer, tirar esses ganchos todos da cabeça..." e sorriu num olhar. Lavou as mãos e saiu. Era a actriz Beatriz Batarda. Os actores trabalham com palavras, com textos, com significados e quando ouvimos ou lemos alguma entrevista da Beatriz Batarda sentimos esse respeito, essa responsabilidade naquilo que se diz.
Algumas frases....
“A existência do teatro não comercial corresponde ao desenvolvimento do pensamento artístico. É o que nos permite ser actores no verdadeiro sentido da palavra, e ser actor não é essa viagem ao ego que o tal ‘star system’ quer fazer passar!”
"Certas personagens aparecem na minha vida na altura certa. O que me tem permitido fazer uma viagem de descoberta e crescimento, que não acabou ainda. Aconteceram muitas coisas no último ano na minha relação com a profissão. Aconteceu ao nível da técnica, do exorcizar do meu narcisismo. Cheguei a um momento em que aceito as minhas fragilidades. É bom que a técnica seja dominada, mas ela é apenas um instrumento."
"Dominar a técnica torna-se o objecto da nossa obsessão e do nosso esforço. Fica uma coisa muito cerebral, fechada sobre o domínio do texto, da interpretação, da relação com o público. Tem um efeito contrário: contribui para a minha desumanização. Porque o público não se reconhece, não reconhece a sua própria humanidade. Faz comentários à habilidade da actriz, ao fogo-de-artifício, mas não sente nada. Quando percebi que isso me estava a acontecer fiquei triste, porque não é essa a minha viagem."
"Começou com O Construtor Solness, depois De Homem para Homem e finalmente com A Menina Júlia. Houve um mergulho que foi um equívoco. Quando surge uma peça cujo tema é: quem é que domina?, os deuses, o destino, nós próprios?, a quem cabe a decisão?…, isso tem um efeito redentor na minha relação com a representação. Como sacerdotisa de Diana [na peça de Goethe], tenho de entrar em contacto com a minha humildade, e assim descobrir a minha humanidade."
"Tento dizer as verdades sem ser egocêntrica. Às vezes dizê-las pode ser uma maneira de exibir uma verdade pessoal."
"Porque é verdade. É difícil acusar um actor de fazer plágio. As coisas podem ser sempre transformadas. Digo isso porque as pessoas levam-se muito a sério, e não devem. Apesar de ter 31 anos, não sou nenhuma jovem. Há actores muito mais jovens e é importante ter alguma humildade. Não há nada que não tenha sido já inventado, na música, no teatro ou no cinema. É preciso ter consciência disto: devemos fazer o melhor que pudermos, mas não nos acharmos muito especiais, porque como nós há muita gente. Passei a questionar-me sobre isto por causa desta história dos prémios e do vedetismo. Há dois anos, eu era a mesma pessoa e hei-de ser sempre. O mundo da fantasia é só nas histórias; fora delas as pessoas são pessoas."
"A língua portuguesa tem uma ressonância e um passado emocional em mim que a língua inglesa não tem. Quando digo "amor", "solidão", "desgosto", essas palavras ganham cor, textura. Quando o som sai, sente-se. Em inglês tenho que o construir. É uma coisa mais artificial."
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